“No Meio do caminho tinha…”​ um buraco

Li um artigo em que a USP estava trabalhando num asfalto de altíssima qualidade. Segundo o responsável pelo projeto, apesar de um custo de instalação mais alto, o asfalto teria vida útil de 60 anos. Imaginem só! 60 anos! É um sonho, né? Principalmente, para nós brasileiros que sofremos com as nossas estradas e ruas esburacadas. Os buracos são um verdadeiro pesadelo para os nossos carros e grande causador de acidentes. Mas pesadelo mesmo esta iniciativa parece ser para as empreiteiras: aquelas que constroem as nossas estradas com asfalto ruim e ganham rios de dinheiro para fazer a manutenção.

O problema, porém, além de ético, passa pela forma com que este tipo de serviço é cobrado e pelo paradigma instaurado de medição. Como um grande amigo costuma falar: “Diga-me como me medes, e eu lhe direi como me comporto”. Afinal, quem paga este serviço quer saber quantos buracos foram tapados ou quantos quilômetros foram recapeados, não é? É assim que as pessoas se sentem mais tranquilas em quitar este tipo de despesa, pois a evidência está ali. No entanto, para que as empreiteiras vão melhorar o serviço, se elas ganham mais se trabalharem mais e taparem mais buracos? Nesta conta, porém, não estão os custos com os engarrafamentos causados e as perdas potenciais, os acidentes sofridos, as contas dos mecânicos ou hospitais até.

Isso mostra claramente o quanto os valores estão distorcidos. O valor aqui não deveria ser medido pela quantidade de buracos, mas exatamente o contrário: pela ausência de buracos. Não é mais lógico? Não seria melhor para todos se não houvesse buracos? E as empreiteiras!? Bem, se tivéssemos consciência das coisas e foco no real valor, a ausência de buracos deveria ser a meta de todos os envolvidos, inclusive para remunerá-las… Isso! Remunerar as empreiteiras pela ausência de buracos! Assim, seu objetivo, ao construir as estradas e ruas, seria fazê-las da melhor forma possível, com a melhor tecnologia e materiais para deixá-las sempre disponíveis e operantes, sem risco aos usuários.

Mas para se chegar a este ponto, precisamos amadurecer muito ainda. Não temos esta cultura. Afinal, como vamos pagar por um serviço se ele não foi feito!? Será mesmo que não foi feito e bem feito? Por que ao invés de se falar em pagar a manutenção, não se fala em bonificar pela sua ausência? Neste caso, o contratado teria sempre o interesse do manter a excelência em suas entregas. Assim, a qualidade sempre prevaleceria. Esta é uma forma de “aumentar o sarrafo”, fazendo as empresas (seus serviços e tecnologias) evoluírem… Vocês não acham?

Bem, agora vamos levar este conceito para o desenvolvimento de software no próximo post…

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